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Pandemia é a ameaça mais temida pelos empresários nacionais
Fórum Económico Mundial ouviu mais de 12 mil líderes, dos quais 156 em Portugal, no âmbito do estudo “Riscos Regionais dos Negócios 2020”. A nível global o risco mais apontado é o desemprego.
No ano passado era a “bolha de ativos” que liderava a lista das maiores preocupações dos líderes portugueses. Neste ano, sem surpresas, o maior risco à atividade apontado pelas empresas nacionais é a “propagação de doença infecciosas”, isto é, a covid-19, que em 2019 nem sequer aparecia no mapa. A conclusão é do Fórum Económico Mundial que acaba de divulgar a edição deste ano dos “Riscos Regionais dos Negócios de 2020”, no âmbito do qual inquiriu 12.012 líderes de 127 países, 156 dos quais portugueses. O mapa interativo foi desenvolvido em parceria com a Marsh e a Zurich, e pode ser consultado aqui.
Portugal está alinhado com o resto da Europa nesta matéria. O risco número um referido no velho continente é também a propagação de doenças infecciosas. Mas não é assim em todas as partes do mundo. A nível global, o risco mais apontado é o “desemprego ou subemprego”, e só depois a pandemia. Nos Estados Unidos, por exemplo, a ameaça mais referida são os “ataques cibernéticos”, e só depois a covid. No Médio Oriente, a liderar os riscos para as empresas locais está o “choque dos preços de energia”.
O segundo maior risco para as empresas portuguesas é a “falha de mecanismo financeiro ou institucional”. Uma preocupação que já no ano passado surgia nesta posição. “A “falha de mecanismo financeiro ou institucional” está, em parte, diretamente ligada a alguns dos fatores a que assistimos: a polarização política, o aumento de divisões nacionais e a desaceleração da economia. Os empresários portugueses percebem que é urgente trabalhar em conjunto na resolução dos riscos partilhados, mas nem sempre as soluções encontradas são soluções de longo prazo, o que potencia a continuação dos riscos e destas falhas”, explica Edgar Lopes, Chief Risk Officer & Internal Control Director da Zurich Portugal.
Só depois aparece o risco de “desemprego ou subemprego”, o maior receio a nível global. No ano passado esta preocupação não estava entre os cinco maiores riscos referidos pelos inquiridos portugueses. A “bolha de ativos” surge este ano em quarto lugar e os “ataques cibernéticos” em quinto.
“A “falha de mecanismo financeiro ou institucional” e a “bolha de ativos” são os dois riscos que diferem do top 5 global, mas estes dois riscos têm sido constantes no top 5 nacional dos últimos três anos – 2018, 2019 e 2020 – o que denota uma grande preocupação com os riscos económicos por parte dos líderes empresariais nacionais”, sublinha Edgar Lopes.
Quanto ao risco “desemprego ou subemprego”, “não constava do top 5 para os gestores nacionais, nem em 2019, nem em 2018”, frisa Fernando Chaves, Risk Specialist da Marsh Portugal, para quem “as empresas portuguesas têm razão quando destacam este risco agora. Algumas indústrias, como a do turismo, reduziram a sua atividade nos últimos meses para níveis que já não vivíamos há muitos anos e só não engrossaram as taxas de desemprego devido à medida de apoio excecional de layoff e layoff simplificado”.
Para este especialista em risco, “cresce a probabilidade de aumento de falências e – se não houver apoios atempados – de redução de quadros ou aumento de despedimentos no decorrer dos próximos meses”.
Riscos climáticos desvalorizadosOs inquiridos tinham de escolher os cinco riscos globais mais preocupantes para o seu negócio nos próximos dez anos, de uma lista de 30, que inclui ameaças como ataques terroristas, fenómenos meteorológicos extremos e colapsos ou crises de Estado.
Para o responsável da Zurich Portugal, “o que é preocupante é que os empresários portugueses não relacionem o risco “propagação de doenças infecciosas” com os riscos climáticos de “falha de adaptação às alterações climáticas”, que situaram em 10.º lugar ou com a “perda da biodiversidade e colapso dos ecossistemas” que só aparece em 23.º lugar. Sabemos que os riscos climáticos são riscos existenciais e que, por este motivo, precisam de muito mais atenção”.
Para Edgar Lopes, “mais dia, menos dia, todos os setores serão impactados por uma grande parte dos riscos globais e a necessidade de os antecipar vai ditar o sucesso das empresas. Isto consegue-se com uma análise de gestão de risco muito mais alargada, que integre não só os riscos económicos, mas também os ambientais e os sociais”.
O responsável da Marsh sublinha a perceção dos países com as maiores economias. “Por exemplo, além da “propagação das doenças infecciosas”, os empresários alemães destacam os “ataques cibernéticos” e os “conflitos interestatais”, os espanhóis identificam o “desemprego” e “bolha de ativos”, os norte-americanos preocupam-se, em especial, com os “riscos tecnológicos” e os chineses com a “bolha de ativos” e conflitos interestatais””, sublinha Fernando Chaves, para quem “a interconexão de riscos e a forma como a cadeia de valor pode ser afetada – como se comprovou com esta pandemia – vem, por isso, lembrar-nos que apesar de cada país ou região poder ser afetado de forma diferente, as empresas devem aplicar os princípios da geoeconomia às suas políticas de gestão de riscos, percebendo as tendências, mesmo em mercados que não explorem diretamente”.
Em termos globais, e apesar da preponderância dos riscos económicos, o risco “catástrofes naturais” subiu sete lugares no ranking deste ano, os “fenómenos meteorológicos extremos” subiram cinco, a “perda da biodiversidade” e “colapso dos ecossistemas” subiram oito lugares e a “falha de adaptação às alterações climáticas” dois, revelando também as preocupações em torno do ambiente. Entre as maiores descidas estão as “catástrofes ambientais provocadas pelo homem” (desce seis lugares), a “falha de planeamento urbano” (cai sete posições) e os “ataques terroristas” (desce nove).
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