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Fogo na Amazónia deixa economia brasileira a arder

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Fogo na Amazónia deixa economia brasileira a arder

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As queimadas da floresta amazónica brasileira podem propagar-se à economia do país, temem economistas e pesquisadores, numa altura em que o Produto Interno Bruto (PIB) do país está a desacelerar – cresceu 0,4% no segundo trimestre, em comparação com o anterior, e 1% relativamente a junho de 2018. Agora, setores da indústria temem vir a sofrer com boicotes e pressões. E acordos na esfera internacional, como a adesão à OCDE – desejo antigo de Brasília – ou a conclusão da parceria entre Mercosul e União Europeia, recentemente assinada, foram postos em lume brando. Sobre este foco de incêndio, Lia Valls, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas, diz ao Dinheiro Vivo que o Brasil fica refém das reações do Velho Continente. “Tudo depende de como a União Europeia vai reagir: o acordo tem cláusulas sobre o meio ambiente que, embora não prevejam sanções, servem de pressão. Seria muito mau para o Brasil não assinar o acordo, um acordo que traria importantes investimentos para o país”, afirma a investigadora.

Também analistas como o diplomata Rubens Ricupero avaliam que existe um “perigo real” de o acordo, anunciado no fim de junho mas ainda a necessitar de aprovação dos parlamentos das nações envolvidas, não chegar a sair do papel. Isso é o que parecem indicar as primeiras reações. França e Irlanda, concorrentes do Brasil no mercado de carnes, já afirmaram mesmo que não vão ratificá-lo.

“A questão ambiental é o novo álibi para tentar postergar ou até mesmo reverter o acordo”, diz o economista Robson Gonçalves, professor da Fundação Getulio Vargas, em declarações ao jornal Zero Hora. “Quem mais tem a perder com essa situação é o Brasil. O país precisa de uma atitude mais conciliadora para reverter este quadro e não de procurar nas organizações não governamentais um bode expiatório para as queimadas”, acrescenta.

Mas a ação dos protagonistas de Brasília está pouco sensível a argumentos, como se tem visto pelas reações públicas nos últimos dias. O presidente Jair Bolsonaro tem sido criticado por ter ateado fogo à relação com o homólogo francês Emmanuel Macron – o ministro da Educação brasileiro chamou Macron de “calhorda” e “cretino”, o deputado Eduardo Bolsonaro acrescentou “idiota e “moleque” ao rol de insultos e o próprio chefe de Estado fez um comentário hostil à primeira-dama francesa, Brigitte Macron.

A entrada na OCDE, cuja admissão depende do cumprimento de um conjunto de recomendações, muitas delas ambientais, é outro objetivo brasileiro antigo que sai afetado nesta contenda. “Alguns analistas acreditam que é importante a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico porque ela diminuiria a avaliação de risco, mas por outro lado, quando isso venha a acontecer, o país será obrigado a estar alinhado com as práticas de boa governança…”, lembra, porém, Lia Valls.

Soja e carne já sofrem efeitos
Chamada pulmão do mundo, a maior floresta tropical do planeta é responsável, direta e indiretamente, por 70% do PIB de toda a América do Sul. Segundo as contas feitas por um grupo de economistas e engenheiros agrónomos, publicadas na Nature, a Amazónia vale cerca de 8 mil milhões por ano. Se se mantiver intacta – o que parece cada vez mais difícil.

O setor mais preocupado com o impacto económico das queimadas é o das commodities, com o agronegócio a representar uma fatia estimada de 25% do PIB do país. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento apontam que a União Europeia foi o destino de 17,7% das exportações do agronegócio brasileiro em 2019, números fechados até julho. E de entre todos, a soja é o principal produto de exportação brasileira – cujo maior comprador nesse período, com 75% das vendas, foi a China, ficando Espanha em segundo lugar mas apenas com 3,7%.

Em entrevista ao Valor Económico, Blairo Maggi, um dos maiores exportadores individuais de soja e ex-ministro da Agricultura do Brasil, afirmou que “a imagem de país desmatador põe em risco as negociações do setor”. Uma opinião em que não está isolado.
Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro diz mesmo que teme “a má comunicação do Brasil”. “Ela dá azo a o mundo vender a imagem de que o país abandonou a Amazónia”, justifica. E, com isso, barreiras e boicotes devem começar a surgir uma vez que, por pressão dos consumidores e também dos governos, as empresas estão cada vez mais rigorosas com exigências sobre a origem dos produtos na sua cadeia de fornecedores.

“Pior do que a soja, o negócio da carne é o mais afetado – até porque a maioria das queimadas tem que ver com o pasto”, sublinha ao Dinheiro Vivo Lia Valls. Nesse mercado, a China tem 27% de participação nas exportações brasileiras e Hong Kong recebe 14%. Marcos Jank, pesquisador de agronegócio global no Insper, alerta que certificações mais exigentes se devem fazer sentir na soja e na carne.

Roupa e sapatos no limbo
Nesta catadupa de reações e efeitos no quadro internacional, foi entretanto noticiado que 18 marcas de roupas e de sapatos internacionais haviam solicitado a suspensão de compras de couro ao Brasil por causa das queimadas na Amazónia, avançou o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil, associação que representa as produtoras de couro. Em carta enviada ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o presidente executivo do organismo, Fernando Bello, disse que “o cancelamento foi justificado em função de notícias que davam conta da relação entre as queimadas na região amazónica e o agronegócio no país. Para uma nação que exporta mais de 80% de sua produção de couros, chegando a gerar o equivalente a 1,8 mil milhões de euros em vendas ao mercado externo por ano, trata-se de uma informação devastadora”, prosseguiu.

Na carta, foram citadas as marcas Timberland, Dickies, Kipling, Vans, Kodiak, Walls, Workrite, Eagle Creek, Eastpack, JanSport, The North Face, Napapijri, Bulwark, Terra, Altra, Icebreaker, Smartwoll e Horace Small. Mais tarde, porém, os produtores de couro corrigiram a sua própria informação. Disseram então estar, apenas, a receber mais questionamentos sobre rastreabilidade dos animais. E acrescentaram que estão a trabalhar para melhorar a imagem do setor.
“Há uma interpretação errónea do comércio e da política internacionais sobre o que realmente se passa no Brasil, já que governo e iniciativa privada trabalham com as melhores práticas de gestão e de sustentabilidade.”

Saúde e turismo não destoam
Também no turismo – que representa mais de 8% do PIB, com 152 mil milhões de dólares e perto de 7 milhões de postos de trabalho, segundo o World Travel & Tourism Council – já há queixas. Quando os proprietários de hotéis de selva na Amazónia começavam a respirar aliviados porque o fantasma do vírus zika deixou de espantar turistas estrangeiros em massa, o noticiário internacional levou as cenas de florestas queimadas aos seus principais clientes, relata a coluna Painel da Folha de S. Paulo.
Ricardo Pedroso, presidente da Amazonas Cluster de Turismo, relatou ter recebido a ligação de uma turista espanhola que, mesmo já tendo desembarcado em Manaus, capital amazonense, afirmava estar com medo de chegar ao hotel que tinha reservado. É uma entre centenas de queixas que vão desgastando o setor. E se o fogo está a deixar muitos de pé atrás, há operadores que atribuem o problema da imagem não apenas às queimadas mas também – e sobretudo – ao discurso incendiário de Jair Bolsonaro na sequência delas.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia alerta, por sua vez, “para os gastos na área da saúde pública e os prejuízos com ausências de funcionários que decorrem destas queimadas”. No Acre, estado que uma nota do instituto dá como exemplo do que está a acontecer no Brasil, os satélites já registaram 1790 focos de calor, um número que é 57% mais alto do que o valor registado em 2018, aumento relacionado “com o desmatamento, e não com uma seca mais forte”. Efeito disto é que há cidades a respirar uma quantidade de material particulado muito acima dos níveis que são definidos como seguros pela Organização Mundial da Saúde. E a má qualidade do ar não se fica pelo Brasil – arrasta-se ao Paraguai, Argentina, Uruguai.

“As consequências para a população são imensas. A poluição do ar causa doenças e o impacto económico pode ser alto”, diz o pesquisador do IPAM Paulo Moutinho.

*No Brasil

Ilustração: Vitor Higgs

Ilustração: Vitor Higgs




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