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“É preciso um compromisso de valorização e subida de salários”

“É preciso um compromisso de valorização e subida de salários”

Notícias econômicas

“É preciso um compromisso de valorização e subida de salários”

Tem sido um dos maiores motores da economia e continua a viver tempos de bonança. O turismo em Portugal está a atrair mais estrangeiros, que pagam melhor e ficam mais tempo. A uma semana do Dia Mundial do Turismo e com a legislatura prestes a acabar, Ana Mendes Godinho, secretária de Estado do setor, faz um balanço e aponta caminhos.
É o setor que rompe todos os recordes: mais 4 milhões de turistas entre 2016 e 2018; proveitos que tocam nos 4 mil milhões…mais empresas e mais empregados. Porque é que o setor ainda paga tão mal?A nossa preocupação é que o turismo deixe de ser uma atividade sazonal e crie oportunidades de emprego ao longo do ano. Isso faz a diferença para termos cada vez mais quadros estáveis nas empresas e que estas também tenham cada vez mais capacidade de reter talento e valorizar quem nelas trabalha. Nos últimos quatro anos tivemos uma grande criação de emprego no turismo, cerca de 117 mil novos postos de trabalho, depois de entre 2011 e 2015 o turismo ter sofrido uma perda de 10% no emprego. E esta linha de criação de emprego transformou-se numa linha estável, sem grandes altos e baixos. Nos últimos quatro anos os salários cresceram cerca de 6,5%.
O salário médio é de quanto?Há atividades muito diferentes no turismo: restauração, hotelaria, aviação… Falar de valores médios é distorcer a realidade. Dito isto, uma das grandes preocupações que tínhamos, e que foi conseguida, era ter empresas com capitais fortalecidos para criar emprego e remunerar melhor. Em 2014, as empresas de turismo tinham uma rentabilidade dos seus capitais próprios de -1%. Dificilmente tinham capacidade para remunerar os seus quadros e reter talento. Os números apontam para cerca de 13% de rentabilidade de capitais próprios, em 2017, também fruto de algumas medidas que assumimos, nomeadamente a reposição do IVA. Apostámos em qualificar as pessoas, demos nova vida às Escolas de Turismo e fizemos um grande esforço de aproximação da formação à necessidade das empresas. Voltando às remunerações, temos de ter um compromisso a médio prazo de valorização e aumento de salários. É crucial.
Quais são as qualificações e tipos de contratos?Em 2015, apenas cerca de 30% das pessoas tinham qualificação de secundário e pós-secundário. Volvidos quatro anos, e essa foi uma grande aposta, temos cerca de 46%, sendo que o objetivo para 2027 é chegar a 60%. Estamos a meio do caminho, mas está a dar resultados. Sabemos que quanto mais qualificadas, mais se tornam indispensáveis nas organizações e mais valor trazem. Tivemos também uma evolução positiva quanto ao tipo de contratos. Como o turismo está a alargar a todo o ano, os contratos deixam de ser sazonais para serem sem termo.
Portugal beneficiou da instabilidade na Turquia, Tunísia, no Egito e até no centro da Europa. Quantos turistas é que o país recebeu?A OMT fez o estudo e os números de turistas que Portugal e Espanha conquistaram nos últimos anos superam largamente os que poderão ter sido desviados. Não há dúvida de que beneficiámos de alguma conjuntura, mas aproveitámos bem o momento. Mesmo com a recuperação desses mercados estamos a conseguir crescer face a recordes que tínhamos, muito resultante daquilo que tem sido uma estratégia de diversificação de mercados.
Americanos, brasileiros…Exatamente. Nos últimos 3 anos duplicámos o número de turistas americanos em Portugal de 500 mil para 1 milhão. É um público que não vem para férias de verão, fica mais tempo. Os canadianos também viajam durante o inverno, os brasileiros ou os chineses que têm tido um “crescimento asiático”. O mercado da Coreia do Sul está com crescimentos muito significativos e vamos ter uma notícia muito boa, que é a ligação aérea Seul-Lisboa, já em outubro. Isto resulta de uma estratégia delineada de termos ligações aéreas ao longo do ano e ligações competitivas fora da época alta. Estes são mercados que não foram desviados do norte de África, que estamos a conquistar, em continentes onde a nossa presença era quase inexistente.
Mas a atividade turística está a abrandar apesar de o Turismo continuar a crescer em Portugal. Há um crescimento mais lento?Não consigo perceber o que é um crescimento mais lento, porque estamos a crescer 7% em hóspedes e no ano passado crescemos 5%; atingimos uma receita turística de 16,6 mil milhões de euros em 2018 – a base é que começa a ser maior. O que nos interessa é garantir sustentabilidade ao longo do ano. Estamos com maior crescimento na época baixa e nas regiões menos turísticas. Conseguimos, em 2018, pela primeira vez, ter mais de 10 milhões de dormidas no Interior. E isto não aconteceu à custa de outros terem perdido crescimento. Estamos todos a crescer e a tentar que o mapa não incline só para o Litoral.
No ano passado o constrangimento do aeroporto de Lisboa era a grande preocupação do setor. As obras ainda não começaram, mas o tema tem sido menos abordado. Porquê?Temos feito um grande esforço nas reuniões com companhias aéreas de todo o mundo, em promover todos os aeroportos em Portugal, assumir várias portas de entrada para permitir, por exemplo, voos diretos da Emirates para o Porto. Temos de desconcentrar. O facto de termos um aeroporto com a capacidade no limite, não nos pode impedir de continuar a atrair rotas aéreas dos mercados que nos interessam. Ainda há pouco tempo, na Assembleia-Geral da Organização Mundial do Turismo, estive a falar com a Qatar sobre a hipótese de olhar para outras portas de entrada em Portugal.
Por exemplo?Faro…É este esforço de captação que temos feito. E já obtivemos 584 novas rotas e operações aéreas para todos os aeroportos.
Esta negociação de ‘venha, mas não pode ser para Lisboa’ não fragiliza Portugal?Quando estou a promover Portugal, estou a promover o país todo. Quer as companhias aéreas, quer os operadores, já contam com esta ampliação de capacidade. Não considero neste momento que Portugal seja um destino fragilizado, pelo contrário. Somos um case study internacional, prova disso são os 4400 prémios que recebemos.
Com essa estratégia de promover o País como um todo, o novo centro de congressos está previsto para a capital. Não se pensou em fazer este espaço fora de Lisboa?Com o programa que criámos, em 2016, Meeting & Incentives, para captar eventos e congressos internacionais para Portugal, trouxemos 352 eventos e congressos nos últimos dois anos. E o nosso grande esforço tem sido dar visibilidade aos vários locais no país onde se podem fazer eventos e congressos.
Há procura por outros pontos do país?Não havia. Havia para Lisboa e Porto, mas não havia sequer a perceção de que havia outras zonas do país com condições para realizar este tipo de congressos. Dou o exemplo de Coimbra: o centro de congressos no Convento de São Francisco permitiu que Coimbra no último ano subisse dezenas de lugares no ranking internacional. A nossa grande preocupação tem sido essa: dar visibilidade a todos os espaços que existem no país e que as pessoas não conhecem.
Não podemos deixar de notar alguma relutância em responder-nos a esta questão do novo centro de congressos de Lisboa.Não há relutância nenhuma. É fundamental existir um espaço com características competitivas internacionais.
A FIL não é?Tal como está, não é. Temos a necessidade enorme de ter um espaço, como qualquer capital europeia, para captar grandes eventos internacionais. Claramente aqui estamos em desvantagem face a outras capitais, o que não quer dizer que não apostemos tudo nesta captação de eventos ao longo de todo o país, que é o que nos tem trazido estes números fora da época alta e esta capacidade de afirmação de algumas regiões, como Coimbra, que em 2018 não teve um único dia sem ocupação de eventos econgressos.
Com um peso tão grande do setor, Portugal não deveria ter um Ministério do Turismo?Temos um ministro do Turismo que tem sido, aliás, um extraordinário defensor – o nosso ministro Adjunto e da Economia, tal como o ministro anterior, Manuel Caldeira Cabral. Temos um ministro que tutela o Turismo em sede de Conselho de Ministros. Gosto de brincar, dizendo que a minha ambição é que todos os ministros sentados em Conselho de Ministros sejam ministros do Turismo, porque a transversalidade do turismo é grande. O caso do Revive, que nunca teria sido possível se a Cultura não tivesse percebido como era uma vantagem para o património. Acabámos de avançar para o Revive Natureza e vamos ter brevemente a publicação do diploma com as 96 casas em todo o país nas áreas protegidas. Se eu não tivesse um ministério da Administração Interna completamente alinhado nesta política, dificilmente teríamos conseguido que o Turismo tivesse assumido esta transversalidade.
Está disponível para continuar, numa próxima legislatura, à frente da secretaria de Estado do Turismo?Estou sempre disponível para fazer aquilo que for mais útil em cada momento para o país e sempre com uma paixão enorme naquilo que faço e em que acredito muito. Foram 4 anos de muita dedicação e de sentir mesmo que não há impossíveis. Foi extraordinário. O balanço é positivo – não estou a dizer que o Turismo vive um mundo idílico, mas é o resultado de uma mobilização extraordinária de todos.
 
Perfil: Do Direito aos números recorde do turismoAna Mendes Godinho é o rosto do turismo do governo. Licenciada em Direito pela Universidade de Lisboa, tem uma pós-graduação em Direito do Trabalho e Legística e Ciência da Legislação, mas a sua ligação ao turismo não é nova. Foi chefe de gabinete do secretário de Estado do Turismo do XVII Governo Constitucional (Bernardo Trindade) e vice-presidente do Turismo de Portugal. Ao longo da legislatura, Ana Mendes Godinho teve mais vitórias do que derrotas. O setor acumulou milhares de prémios internacionais – 4400 distinções – e a atividade bateu vários recordes: nos últimos quatro anos, Portugal captou mais quase quatro milhões de hóspedes – tendo fechado 2018 em torno dos 25 milhões -, as receitas e os proveitos estão em rota ascendente. A falta de mão-de-obra é o grande entrave do setor, embora Ana Mendes Godinho tenha apostado fortemente no reforço da formação nas escolas do Turismo de Portugal.

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